'NEGUIN' ESTÁ ENTRE OS MELHORES B-BOYS DO MUNDO
'NEGUIN' ESTÁ ENTRE OS MELHORES B-BOYS DO MUNDO
Abr 22, 2021

'NEGUIN' ESTÁ ENTRE OS MELHORES B-BOYS DO MUNDO

Luciana Mazza FOTO: Arquivo Pessoal

Ele é de Cascavel, Paraná, mas hoje mora em New York e se considera um mensageiro da Cultura Hip-Hop e da arte. Com 33 anos, é considerado um dos melhores B-Boys do mundo. Conhece mais de 141 países e já participou de mais de 100 campeonatos internacionais, sendo o único latino-americano e brasileiro a conquistar o cinturão de campeão da Red Bull BC One. Também coleciona outros títulos, destaque para: UBC Championship em Las Vegas, Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, onde foi o único brasileiro a alcançar esses títulos até hoje. Trabalhou com grandes nomes internacionais como Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney e Missy Elliot. Estamos falando de Fabiano Carvalho Lopes, mais conhecido na cena e no resto do mundo como Neguin. O nosso Neguin do Brasil! O Portal Breaking World bateu um papo com ele e hoje apresentamos com exclusividade para vocês:


Queria que você falasse como foi sua infância. O que gostava de fazer quando criança e que lembranças tem dessa época? Foram tempos difíceis ou tranquilos?

Minha história começa em Cascavel, no Paraná, eu comecei na capoeira aos três anos de idade. E, depois de 10 anos praticando capoeira, me interessei em aprender uma cultura diferente, então, eu despertei o interesse e comecei a praticar a Cultura Hip-Hop. Eu pratiquei todos os elementos da Cultura Hip-Hop, mas o que eu mais me destaquei foi o Breaking, devido eu já ter toda essa filosofia e conhecimento da capoeira. Então, eu mesclei as duas artes que englobam várias artes em uma só e a partir dali dei início a uma nova trajetória dentro da Capoeira e do Breaking, onde sou reconhecido mundialmente hoje. Mas, nesse período de criança, da infância, eu me envolvi também com outras atividades, o skate, o jiu-jitsu, sempre me envolvi com artes, pinturas. Sempre fui um menino voltado a aprender coisas novas que me inspiravam artisticamente. Sim, foram tempos difíceis devido ao nosso país não proporcionar apoio e nada, eu vim de família super humilde, que sempre apoiaram a minha arte, mas financeiramente sempre houve um obstáculo de viajar, ir para outros estados para poder competir, mas foi uma infância muito saudável, curti muito e ainda curto. Hoje estou com 33 anos, mas eu ainda me sinto aquele moleque de 13…



 

Quando você disse: “É isso que eu quero para minha vida”?  A capoeira, o jiu-jitsu vieram antes da paixão pela dança? 

Foi quando eu terminei o ensino médio e a capoeira e o jiu-jitsu chegaram antes do Breaking, sim. Eu terminei o ensino médio, comecei a trabalhar, eu teria a capacidade de ser um gerente numa empresa mas não foi isso que eu escolhi, pois a minha arte sempre falou mais forte e eu me joguei, peguei a primeira oportunidade e saí para fora do país, como competidor de Breaking e aproveitei essa oportunidade e me destaquei, a partir dali eu já fiz o meu cartão de visita, as pessoas identificaram o meu talento e eu comecei a viajar para outros países, em princípio para competir e, obviamente, eu comecei a ministrar palestras, workshops e tal, e surgiram outras coisas como Cirque du Soleil, comecei a trabalhar com a Madonna e minha carreira teve uma projeção rápida, ainda nos meus 19 e 20 anos.



 

Verdade que você sofreu grandes influências dos seus irmãos que dançavam e faziam ensaios em casa? O que eles dançavam? Nos fale um pouco dessa convivência com os irmãos e como passou a entender a dinâmica da música e da dança?

Sim, os meus irmãos dançavam o estilo deles de “club”, os “flashbacks” e foi minha irmã que me introduziu na capoeira. A minha família sempre me inspirou na arte, mas o estilo de dança deles era de passinho e tal, mas o que me influenciou bastante foram as músicas que eles escutavam na época. Escutavam flashbacks e as músicas mais clássicas e obviamente passando pelo Techno e música eletrônica. Eu cresci ouvindo música eletrônica e mesmo quando eu comecei a praticar o Breaking eu ia também nas festas raves, então, a música eletrônica sempre esteve presente dentro do meu estilo.


Nos fale um pouco sobre inspirações… houve pessoas que te inspiraram na dança? Queria que você falasse também da fusão de Breaking, capoeira, movimentos acrobáticos, jiu-jitsu. No Breaking houve movimentos mais difíceis de aprender ou você sempre teve facilidade em todos?

As inspirações, como qualquer arte que você aprende no início, lógico que tem várias inspirações, várias pessoas que são referência na modalidade, então, as minhas maiores inspirações foram vários dançarinos. Ken Swift, K-Mel, os membros da minha equipe, Pelezinho, antes de o conhecer eu já admirava bastante o trabalho dele e a minha mesclagem com a capoeira é um complemento, toda movimentação da capoeira introduzida no Breaking é uma característica minha e vice-versa e o Breaking sim, tem o grau de dificuldade mais difícil que a capoeira, mas um complementa o outro e a dedicação em cada movimento e cada etapa dentro do que você pratica acaba se adaptando e desenvolvendo uma movimentação nova. Enfim, um complementa o outro.



 

Fale dos principais eventos que participou e que foram especiais para você?

Eu participei de mais de 100 campeonatos internacionais, eu sou o único latino-americano, o único brasileiro a ser campeão mundial do Red Bull BC One, eu sou o campeão de 2010, também ganhei outro mundial chamado UBC Championship, em Las Vegas e ainda Unbreakable, Freestyle Session e Outbreak Europe. Foram vários mundiais 1 vs 1, eu fui o único brasileiro a alcançar esses títulos. No Brasil, participei de vários também menores, mas o início da minha carreira como competidor já me destaquei mais nos eventos internacionais, então, uma vez que eu entrei no circuito internacional, as batalhas foram em todos os continentes e eu já viajei a 141 países e dentro desse número, pelo menos nuns 80 eu estive competindo.



 

Neguin, viver da dança é um desafio? Recentemente vi um depoimento seu onde dizia que você conheceu o mundo através da dança e da Cultura Hip-Hop. Que dicas você dá para quem pretende viver da dança?

 Sempre será um desafio como artista ter obstáculos a serem enfrentados. Primeiramente, você tem que acreditar na sua arte, ser bom naquilo que você faz, se dedicar, porque nada na vida vem fácil, é muita dedicação, muita disciplina e é preciso ter foco, ser focado nessa arte e ver o que o mundo te oferece para facilitar esse espaço para você, no meu caso era sempre difícil, mas eu pensava “eu vou me preparar para quando rolar a oportunidade eu estar pronto, então, o que vou precisar? Vou precisar do e-mail? Vou! Vou precisar falar inglês? Opa, não falo inglês, então, vou praticar inglês, não vou ficar no Facebook falando com as garotinhas. Eu vou afiar o meu inglês para que eu esteja preparado para viajar para o exterior”. Então, é uma questão de preparação! Falar inglês, estudar a sua arte! Ter todo o conhecimento para investir na sua arte, no seu talento, aproveitando as oportunidades que virão e a partir dali ter o que chamamos de sucesso! Para chegar no sucesso, precisa valorizar a sua arte e estudar muito!



 

Atualmente, onde você mora? Como foi sair da sua terra e viver em outro país, com outro idioma e outros costumes? Como foi essa transição e adaptação?

Eu moro em New York, essa cidade sempre foi a minha base, eu morei na Califórnia um tempo, mas atualmente eu moro em New York. Com as viagens que eu fazia como competidor, através das minhas viagens com a dança, com a capoeira e o jiu-jitsu, eu percebi que era o lugar que eu me identifico muito, é um local onde as oportunidades estão aqui para tentar! Tanto New York como São Paulo não é nada fácil, é o mesmo perrengue e a mesma correria, porém, eu sempre gostei da Cultura Hip-Hop e como nasceu lá e a Cultura House Dance no contexto geral, New York despertou essa minha possibilidade de viver lá, então, me projetei para viver naquele local e já tem 12 anos que moro lá. Não me lembro muito das dificuldades do início, mas olha, eu não olhei para trás não! Eu percebi que o Brasil não me oferecia muita coisa e resolvi me projetar para fora, onde a minha arte é mais valorizada!



 

Parece que você conseguiu rapidamente se conectar com as pessoas certas, trabalhando com celebridades como Madonna, Fergie, Gwen Stefani, Sean Paul, Justin Timberlake, Paul McCartney and Missy Elliot. Nos conta como tudo aconteceu?

O meu talento sempre se destacou de uma certa forma, as redes sociais também, a internet facilita esse traslado, o network com as pessoas que eu conheci. Eu já estava morando em New York quando a Madonna assistiu um vídeo que mostraram para ela e ela ficou sabendo que eu estava em New York, ela foi no clube onde eu estava e falou: “eu quero ir lá ver quem é esse cara e vou conhecê-lo”. Na verdade, a Madonna foi até uma festa onde eu estava dançando em pessoa, você vê como em New York tem uma realidade bem diferente, a celebridade, a ícone da música pop chegou lá na festa, como uma cidadã comum, né? Ninguém olhou para ela como celebridade e a partir dali eu comecei a trabalhar com ela, aí a história vai muito mais a fundo. O meu network sempre foi voltado a estar em lugares e representar bem quem eu sou, representar a minha imagem, representar o Brasil, eu acho que isso reflete em todos os meios, seja num show, seja num vídeo. Seja na rede social.



 

Falando especificamente da Madonna, nos conte sobre o tempo que dançou e trabalhou com a Rainha do Pop. Como foi essa oportunidade e o que lembra desse período?

 Eu conheci a Madonna em 2009, então, eu fiquei de 2009 até 2014, foram 5 anos, eu desenvolvi trabalhos com ela como performance, como coreógrafo nas turnês e acabei também ficando com ela! Eu tive um “affair” com ela também, durante um ano, poucas pessoas sabem disso, mas aconteceu, foi uma coisa bem saudável, um relacionamento saudável, teve toda a dinâmica, a gente ainda conversa, ultimamente pouco, faz muitos anos que não nos vemos, mas sempre trocamos ideia pela internet, mas foram 5 anos de trabalho e tive essa experiência muito legal.



 

E o Cirque du Soleil? Fale como surgiu o convite e como foi essa experiência?

O Cirque du Soleil desenvolvo trabalhos com eles desde 2008, mas eu sempre trabalhei com eles num formato de fazer shows de viagens e turnês e não num lugar fixo em Las Vegas, então, sempre fiz shows em Andorra, na Europa, no México onde eles me chamavam. Aí eu ia fazia um mês, às vezes ou uma semana. Ou shows específicos numa reunião ou num evento, então, eu sempre trabalhei em turnê com o Cirque du Soleil. Isso aconteceu em 2010, 2014, 2016, ou seja, sempre estou fazendo shows com eles. Então, o meu relacionamento é desde 2008!


Em 2010, como você mesmo falou, você foi o único latino-americano, único brasileiro a vencer o Red Bull BC One, que é um dos maiores campeonatos 1vs 1 do mundo. E as pessoas o têm como referência. O que na sua opinião foi determinante para esse sucesso?

A diferença é nítida, se eu cheguei lá é porque eu sou autêntico através da minha arte de representar quem eu sou e o que eu aprendi, nesse caso, a capoeira misturando e tendo uma identidade específica, não sendo igual a todos. Eu não sou que nem o europeu, asiático ou americano. Eu tenho características brasileiras! Afrodescendente, toda a mistura que o Brasil nos oferece, então, isso caracterizou muito o meu estilo, o meu talento. E seu eu cheguei lá foi porquê eu busquei isso! Eu passei as dificuldades, superei todos os obstáculos e foquei naquilo, o foco e a disciplina ajudaram que eu alcançasse o que alcancei. Então, se eu consegui, qualquer um pode conseguir também! Basta ter esses princípios para ser autêntico, original e ter foco e força na disciplina!



 

Bom, atualmente o assunto que mais se fala aqui no Brasil entre B-Boys e B-Girls é o fato do Breaking ter entrado para os Jogos Olímpicos. O que acha sobre isso?  Na sua opinião temos B-Boys e B-Girls preparados para competir de igual para igual com outros países e trazer uma medalha olímpica para o Brasil? O que acha do nível dos nossos B-Boys e B-Girls atualmente?

Essa é uma conquista extremamente importante, não que o Breaking precise das Olimpíadas, mas com certeza nessa nova plataforma, que são os jogos olímpicos, isso vai fazer com que as pessoas que não conhecem o Breaking vão ter uma visão de conhecer um pouco mais, então, isso veio para somar. Referente ao Brasil, somos um dos povos mais reconhecidos no circuito mundial, eu acredito que os brasileiros têm sim um grande potencial de trazer medalhas e representar mas vai ter que correr atrás, bastante, porque têm outros países que já são maiores potências, ter mais disciplina, ter mais apoio. Tipo a Rússia, a China e,  então, para os brasileiros, acho que vão precisar continuar praticando e estudando, ter todo esse lado de ajuda, de tentar ajudar o país o melhor possível com toda a minha bagagem como competidor, mas é isso… As Olimpíadas eu apoio totalmente,  porque o Breaking não é um esporte apenas, é uma cultura, mas também somos atletas, querendo ou não, então, seja um campeonato da Red Bull BC One, seja nas Olimpíadas ou numa batalha da esquina o Breaking vai estar presente em todas as plataformas e torcemos para que os brasileiros tenham grande destaque e nos representem bem e esperamos também que o Brasil apoie um pouco mais seus competidores, seus atletas! Vamos ver o que rola…



 

Para finalizar, queria que falasse sobre o Programa da MTV “De férias com o Ex” que participou recentemente. Foi desafiador?

 A participação veio através de um convite logo em novembro, e eu resolvi participar  porque eu não estou viajando muito, então, estou disponível  e usei o programa como uma forma de experiência nova para mim e ao mesmo tempo representar o que eu faço dentro de um ambiente que é bem diferente  do que eu  faço,  então, entrei lá como atleta e toda a minha vida, style, que tem esse lado de curtição, foi uma experiência muito boa para mim e vamos ver agora como vai ser, eles vão lançar essa semana, por ser um programa editado espero que a repercussão da minha imagem seja bem positiva e que tragam novos públicos e pessoas que não me conheciam e passem a me conhecer vendo o que faço artisticamente.



 

Que mensagem você deixaria para todos os B-Boys e B-Girls que curtem o seu trabalho?

A mensagem que eu deixaria é gratidão! Eu tento sempre inspirar essas pessoas e cada um ensina um (risos), então, eu acho que se eu posso inspirar milhares de pessoas, que as pessoas que se inspiram em mim possam fazer o mesmo! A minha mensagem é que estamos todos num mesmo barco, somos todos mensageiros da arte e da Cultura! Abraço a todos!

 

 


Luciana Mazza: Jornalista, Cineasta e Editora no Portal Breaking World

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