A MENSAGEM DE JOKIC COM O INÉDITO TÍTULO DOS NUGGETS.
A MENSAGEM DE JOKIC COM O INÉDITO TÍTULO DOS NUGGETS.
Jun 14, 2023

A MENSAGEM DE JOKIC COM O INÉDITO TÍTULO DOS NUGGETS.

Rafa Eidelwein FOTO: The New York Times

Na noite do dia 12 de junho, última segunda-feira, a equipe do Denver Nuggets se consagrou campeã da maior liga de basquete do mundo. A série deste playoff final foi contra a resiliente e poderosa equipe de Miami que chegou aos playoffs através dos jogos de play-in e se provou mais uma vez, tirando adversários muito fortes do páreo em sua caminhada, como é o caso do Milwaukee Bucks, classificado em primeiro lugar para os playoffs na conferência leste.

 

Muito diferente do Heat, o Denver Nuggets teve uma campanha na temporada regular exemplar. Sob os cuidados do coach Michael Malone e um estilo de jogo coletivo liderado por Nikola Jokic e Jamal Murray, os Nuggets garantiram o primeiro lugar nos times classificados da conferência oeste. A jornada vitoriosa na temporada regular, se intensificou na pós-temporada e pela primeira vez na história da franquia, a equipe do Colorado fica com o troféu Larry O'Brien de campeão da NBA. 

 

Créditos: Sporting News


 

Para quem teve o prazer de dividir valiosos minutos de sua vida com seus colegas e comissões no esporte de alto rendimento, é inevitável não se emocionar com o que certamente nos dias de hoje, é o pináculo do esporte que mais amamos. Certamente, para aqueles que entendem o significado da jornada do atleta e das equipes no esporte, seja qual for a modalidade, sabe que o processo até chegar ao objetivo final é composto por várias pequenas vitórias, e aqui não falo nem do amistoso contra a categoria juvenil do time do interior do estado, às vezes essas vitórias, ou passos do processo, são ainda menores.

 

É fato que ao final da temporada, subliminarmente, uma mensagem sempre é deixada pela equipe que saiu vitoriosa e principalmente pelo atleta que mais se destacou na etapa final da jornada, ou melhor, para aquele que, melhor representou o êxito. Essa mensagem, nem sempre é lida tão claramente e provavelmente nem todos interpretam da mesma maneira pois subliminar também pode ser sinônimo de subjetivo, porém, essa ideia, involuntariamente passa a ser praticada pelo mundo do basquete, o que na prática, é melhor do que entender.

 

E qual a lição que Jokic e os Nuggets deixam com o título? Não sei se entendi, mas tenho um palpite. Primeiramente, Nikola Jokic, em sua jornada, coroada com título de campeão, provou ao mundo ser o melhor jogador de basquete em atividade. Por ironia, o destino quis que Jokic em sua melhor temporada não ganhasse o prêmio de jogador mais valioso da temporada regular, e sim o tão almejado título da NBA. É certo que Jokic ao ganhar aquele que deveria ter sido o seu terceiro MVP teria dado apenas um murmuro e eu não o julgo por isso. Sinceramente, qual a importância desse prêmio individual para quem busca ser campeão? Ah, são as pequenas vitórias, é isso, continue acreditando no processo.

 

Voltando ao propósito do artigo, há quem defenda o argumento de que Jokic mostrou que: todo mundo é capaz. Desculpe, talvez quem pensa desta maneira, tenha pego uma fração da mensagem que apesar de não deixar de ser verdade, não representa o todo. Esse argumento chega a ser preguiçoso e reduz o significado do êxito a quase nada. O pivô sérvio, que aos olhos de muitos não se encaixa fisicamente no "padrão" para um atleta, é mais ou menos o mesmo que aquele armador genial da equipe de São Francisco. É como se nas últimas conquistas da dinastia Warriors, entendêssemos que a partir de agora basta arremessar para três pontos pois foi essa a receita que Curry e Thompson mostraram ser efetiva e suficiente para alcançar o título, arremessar todo mundo consegue.

 

Créditos: Sportsmanor


 

Não se quer saber quantas horas Curry passa arremessando para chegar no nível de precisão que teve nas ocasiões em que conseguiu, junto a Thompson, mostrar ao mundo o quão fácil é arremessar uma bola atrás da linha de três pontos, às vezes, bem atrás. Se Jokic, Curry e Thompson jogam muito fácil, todo mundo pode. Todos jogam fácil, mas fazer aquilo tudo parecer fácil é um trabalho que não cabe ser descrito em um artigo. Não, não é todo mundo que pode, é apenas para aqueles que estão dispostos a buscar a excelência de forma obsessiva e esses são muito poucos.

 

Será que é essa a mensagem? O que Jokic faz parecer fácil, é pra poucos. Vamos de números então, Jokic bateu o recorde de Wilt Chamberlain que era de 7 triple-doubles com 10 triple-doubles em uma única pós-temporada. Jokic também conseguiu pela terceira vez um triple-double com pelo menos 30 pontos, 20 rebotes e 10 assistências, os outros dois caras que conseguiram essa marca foram novamente, Sr. Wilt Chamberlain em 1967 e Kareem Abdul-Jabbar em 1970. Desses três triple-doubles de 30/20/10 de Jokic, um deles foi na série final, isso ninguém conseguiu, só Joker. Aqui, vale uma menção a Jamal Murray que neste mesmo jogo também fez um triple-double de 30 pontos, fazendo com que a dupla seja a única na história a marcar ambos um triple-double de pelo menos 30 pontos em uma série final. Por fim, Jokic consegue pela primeira vez na história terminar os playoffs sendo o líder em pontos, rebotes e assistências, obtendo a maior média que um jogador já teve nas finais: +30 pontos, +14 rebotes e +5 assistências, ou seja, ele é 1 de 1. Se apenas ele conquistou isso, então nesse caso é menos que para poucos pois aqui, nem cabe o emprego do plural.

 

Créditos: USA TODAY Sports


 

Jokic é dono de um jogo bastante peculiar com uma técnica muito única. Me incomoda a afirmação de que Nikola Jokic possui muita técnica, de forma que ele seja igual a outros que também possuam muita técnica. De novo, a afirmação não é errada mas eu não tenho conhecimento de jogadores que façam aquele fade away por que aprenderam daquele jeito, o "Sombor Shuffle", como é chamado é uma técnica dele, que apesar de peculiar não pode ser jamais questionada pois faz parte de um dos repertórios de post-up mais efetivos da liga, como deveria ser um pivô. O que impressiona em Nikola é o alto QI de basquete, claro que o entrosamento da equipe passa por isso, mas é inevitável não pensar "como deve ser legal dividir a quadra com esse cara", um senso coletivo apuradíssimo que na maioria das vezes prefere o passe à definição, como deveria ser um armador, talvez. Percebe? É muita técnica, mas é diferente dos outros.

 

 

Não bastasse ser tudo isso, Jokic também protagonizou as melhores, ou piores entrevistas nas salas de imprensa da NBA. Nota-se que é um esforço tremendo para ele tirar algumas palavras da boca mas quando sai, bom, aí é melhor estar preparado. Em diversas ocasiões, na etapa regular e playoffs, os jornalistas animados, esperando talvez uma palavra ou um sorriso de canto de boca, exaltavam os números que ele havia tido naquela partida e sem nenhuma disposição Jokic lançava um: "Legal.", ou, "Uhh!", bem irônico.

 

Nessa parte da jornada do campeão, Jokic foi igual a Gregg Popovich, técnico multicampeão do San Antonio Spurs, sem disposição para entrevista, frequentemente soltando uma patada em um jornalista e outro e ao final de tudo, levantando um troféu. Inclusive, Jokic e Denver têm muito mais em comum com o San Antonio de Gregg Popovich do que apenas as entrevistas, mas isso é outro papo. Falando novamente das entrevistas, uma que marcou os playoffs foi justamente quando Jokic marcou pela primeira vez na história das finais 30 pontos, 20 rebotes e 10 assistências e quando perguntado sobre o que aquilo significava para ele, respondeu: "Nada demais."

 

Silêncio. Apesar dessa resposta seguir o padrão das outras, aqui lembrei de outra entrevista emblemática. Na ocasião, Kobe e os Lakers lideravam a série de playoff final por 2-0 contra o Orlando em 2009 e após a segunda vitória, Kobe foi perguntado por um jornalista por que ele parecia não estar feliz com os resultados até o momento, Kobe respondeu: "Por que estaria feliz? O trabalho ainda não acabou. Acabou? Eu acho que não." E foi exatamente isso que Jokic quis dizer! Bingo, Mamba Mentality. Em 2009 Lakers foi campeão com Kobe liderando o elenco e levou para Los Angeles o primeiro título depois da era Kobe e Shaq. Com Jokic dizendo a mesma coisa que Kobe em 2009 só que do seu jeito, o resultado acabou sendo o mesmo e Mile High tem agora seu primeiro título da NBA.

 

 
 
 
 
 
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E qual a moral disso tudo? Pode ser que a mensagem seja de que nada é tão fácil e rápido quanto parece e que talvez existam mais meios de se chegar a um resultado que não sejam os meios tradicionais. Jokic não é um pivô que surgiu na "era de três pontos" e por isso joga dessa maneira. Ele joga dessa maneira desde quando era um adolescente na Sérvia e vem desenvolvendo suas habilidades e refinando movimentos constantemente. Jokic enxerga o jogo de uma forma particular e sua maneira de jogar é condicionada a sua inteligência que é diferenciada, tudo isso visando o caminho mais efetivo entre a tomada de decisão e o resultado, por isso que ele é especial. Especial foi o adjetivo que LeBron James usou para definir Nikola Jokic em uma emocionante e respeitosa fala depois do 4-0 sofrido entre Lakers e Nuggets, enaltecendo justamente o que comento acima, a inteligência ímpar de Joker.

 

 
 
 
 
 
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Talvez a lição seja de que você deve estar preparado e ter inteligência para reconhecer a oportunidade e saber a ação mais efetiva para ser tomada, sem ser uma carta marcada e atuando literalmente como um coringa.

 

Prepare-se para tomar decisões e fazer 30 pontos em um jogo que precisa de você, prepare-se para ser suporte da sua equipe e pegar 20 rebotes em outro jogo, prepare-se para ser uma ferramenta facilitadora e proporcionar outras 10 oportunidades ou assistências. E se precisar, faça tudo isso na mesma partida, às vezes o jogo pede, a vida sempre pede. Nada é fácil, muito menos rápido. Ao final, não seja tão duro consigo, reconheça humildemente seu trabalho e deixe que a energia colocada na obra fale mais alto do que suas palavras, valorize o coletivo e seja constante. No final, nunca é somente sobre basquete.

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